Outro
dia recebi o seguinte e-mail:
Oi
Deisy, tudo bom? Como está o Adam? Outro dia conheci um garotinho com SD na
fila do supermercado, ele tinha quatro anos, estuda em uma escola pública
inclusiva. Sei disso porque puxei conversa com ele e com a mãe e comentei que
tenho um sobrinho de dois anos e meio que também tem SD. Entretanto quando
cheguei em casa e comentei com meu marido, de repente percebi que não tenho um sobrinho
com SD, a única criança que conhecemos com a síndrome é o Adam, o filho da
Deisy. Interessante né? A gente tem acompanhado tanto a vida dele pelo blog que
é como se ele fosse da nossa família (...)
Quando
Adam nasceu tive muitas angústias, afinal eu não havia me preparado para ser mãe
de uma criança com SD e a sensação de que eu poderia deixar de fazer algo que
no futuro seria fundamental para sua saúde e seu desenvolvimento foi o que marcou essa primeira fase, nada de
tristeza, mas sim de muitas incertezas.
Essas
incertezas aos poucos foram se dissipando, um livro aqui, um artigo acolá,
trocas de experiências com profissionais e outros pais de crianças com trissomia
21, informações que sempre chegaram no momento certo e todas elas me levando na
direção de que o amor e a intuição ainda são as melhores formas de se cuidar de
um bebê, não importando o número de cromossomos que ele tenha.
Mas
então um dia eu resolvi dar também, tanta gente me ajudou com suas experiências,
por que não deixar que nossa história tenha a possibilidade de ajudar alguém? E
foi então que há exatos dois anos criei o Tecendo a Vida e publiquei o primeiro
post. Muitas coisas aconteceram nesses últimos dois anos, mudamos de cidade, de
país, de idioma, Adam mudou de pediatra e de todos os terapeutas e com isso
tivemos fases em que o caminho foi tão intenso que não sobrou tempo para sentar
e narrar nossa história. Mas não foi só isso, nesses dois anos também vivi
momentos em que me questionei se não estava expondo demais nossa família,
principalmente o Adam, mesmo sabendo que se queremos ver as diferenças
respeitadas é preciso dar chance para que elas sejam conhecidas. Esse foi e
continua sendo o principal propósito do blog, mostrar às pessoas que existem
mais semelhanças entre uma criança com SD e uma criança comum, que diferenças.
Receber
esse e-mail, de uma pessoa que mal conheço pessoalmente, foi para mim um prêmio,
uma resposta a muitos questionamentos, sim estamos no caminho certo. Tenho
certeza que o olhar da Carla (minha amiga do e-mail) mudou depois de “conhecer”
o Adam, quem sabe antes dele ela jamais teria interesse em saber mais a
respeito do garotinho de quatro anos que estava com a mãe em uma fila de
supermercado. E esse olhar pode ser o de uma professora que receberá uma
criança com SD, de um futuro colega de trabalho, de alguém que verá uma
discriminação e sentirá vontade de intervir, de um responsável pela contratação
em uma oferta de trabalho.
Na
vida, a gente nunca sabe quem cruzará nosso caminho, mas acredito que ao termos
a certeza de que estamos na trilha correta, saberemos manter a companhia dos
que acrescentam e deixar passar aqueles que não vibram na mesma sintonia que a
gente.
Sempre
gostei do verso do Fernando Pessoa em que ele diz “Valeu a pena? Tudo vale a pena, se a alma
não é pequena.”, mas ele nunca se adequou tão perfeitamente na minha vida como
nessa fase do caminho.
Obrigada a todos os amigos que nesses últimos dois anos acompanharam
o nosso tecer.
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