11 de set. de 2013

Terror Noturno - quando o nome é mais assustador que o fato em si

Quando comecei a ler sobre o tema distúrbios do sono minha ideia inicial era escrever um post sobre o assunto aqui no blog. Entretanto à medida que fui pesquisando o assunto percebi que esse é um tema bastante extenso e que se colocado em apenas um post poderia resultar em um texto extremamente longo ou extremamente superficial. Foi então que decidi publicá-lo mais de uma vez, porém com diferentes enfoques.  O tema de hoje trata de um distúrbio do qual eu nunca havia ouvido falar antes, o terror noturno.

Mas antes de “ir ao grano”, como dizem meus amigos espanhóis, gostaria de contar para vocês que agora Adam não dorme mais num berço, ou melhor, o berço continua o mesmo, entretanto retiramos a grade e o transformamos em uma cama. Tudo começou quando o pequeno homem aranha resolveu escalar as paredes do berço, primeiro timidamente, será que posso? Depois, já com o sabor da conquista na boca, buscando descobrir de quantas maneiras seria possível chegar ao chão... para sua seguridade e nossa tranquilidade “optamos” por dar esse passo que nos fez, definitivamente, perceber que não temos mais um bebê em casa.

Na primeira noite creio que visitei seu quarto umas dez vezes e lá pela quinta ou sexta levei um susto bastante grande, Adam não estava na cama...  em questão de segundos cenas de “O bebê de Rosemary” e “A mão que balança o berço”(apesar de não haver uma babá em casa) passaram pelo meu coração ...  don’t panic, pensei eu e ao girar os olhos fui encontrá-lo dormindo no canto entre a parede e o guarda-roupa, dormia tão profundamente que nem percebeu a mudança de uma superfície dura para uma superfície macia quando o devolvi para a cama.

Passados alguns dias, em que todos na casa já estávamos acostumados com a nova realidade e conseguíamos dormir quase uma noite inteira, fomos despertados no meio da madrugada por gritos horríveis vindo do quarto do Adam, em questão de segundos estávamos os dois ao lado da cama e o que vimos nos deixou confusos, ele estava sentado, de olhos abertos, mas era como se não percebesse que estávamos ali mesmo após tirá-lo da cama, aliás, isso o deixou ainda mais nervoso. O que será que esta acontecendo? Verificamos a temperatura, normal, pode ser que ele tentou respirar e o nariz está trancado pensamos, colocando imediatamente umas gotas de soro fisiológico, mas nada, a cada coisa diferente que fazíamos parecia que nosso pequeno ficava ainda mais confuso, mais agitado. De repente, quando já pensávamos em ligar para o pediatra ele parou de chorar, deitou e voltou a dormir, como se nada tivesse acontecido. Foi um pesadelo, pensamos, mas começamos a nos preocupar porque essas crises começaram a repetir-se com uma certa regularidade, resolvemos então procurar o otorrino que vem acompanhando Adam. Após alguns minutos de conversa nos veio a explicação, provavelmente ele está sofrendo de crises de terror noturno.

Mas o que e esse tal de terror noturno? É algo específico a crianças com T21? Os terrores noturnos são bastante comuns em crianças entre 3 a 8 anos (na Inglaterra alguns especialistas citam um percentual de 15% das crianças nessa faixa etária) embora eles possam aparecer em bebês de apenas nove meses. Vale salientar que esse índice é geral, ou seja, não existe associação com a deficiência intelectual ou a SD mais especificamente. Tecnicamente falando, eles são causados ​​por despertares parciais de uma fase profunda de sono, fazendo com que a criança chore, soluce ou se debata, mas apesar dessa reação ela não parece com medo, apenas confusa.

Mas será que uma crise de terror noturno é o mesmo que ter um pesadelo? Não, os pesadelos ocorrem durante o movimento rápido dos olhos (REM) ou fase do sonho e finalizam quando ela se desperta. A criança pode chorar, mas ao ter a presença de um adulto, ele se acalma e volta a dormir. Já o terror noturno acontece apenas quando a criança sai da fase N-REM, ela não estará completamente acordada durante esses episódios e não terá lembrança alguma de seu comportamento na manhã seguinte. Diz-se que ela está entre o sono e a vigília e esses episódios duram entre 3 a 15 minutos.

Mas por que acontecem os terrores noturnos?  Segundo Dr. Farber, médico pediatra do Hospital de Boston, EUA, os terrores noturnos são mais comuns em crianças com um histórico familiar de terror noturno ou de sonambulismo. Além disso, um episódio pode ser desencadeado por qualquer coisa que aumente a quantidade profunda do sono da criança, como cansaço, febre ou certos medicamentos. Outro fator esta relacionado à forma como a criança se desperta de um sono profundo, tais como excitação, ansiedade ou um súbito ruído.

Mas e o que devemos fazer quando isso ocorre? A melhor coisa é manter a calma e esperar até que o episódio passe, assegurando-se de que seu filho está bem. Os terrores noturnos podem ser assustadores de se testemunhar, mas eles não causam nenhum mal à criança. Você não deve tentar acordá-la quando ela está tendo a crise, pois ela pode não reconhecê-la,  tornando-se ainda mais agitada se você tentar confortá-la. Após o término do ataque o melhor é acordar a criança e, se necessário, incentivá-la a usar o banheiro antes de voltar a dormir. É muito importante que ela esteja completamente acordada antes de voltar a dormir, caso contrário retornará muito rapidamente ao sono profundo e poderá voltar a ter outra crise.

De acordo com o Dr. Vincent Iannelli, médico pediatra americano e autor do livro The Everything Father's First Year Book normalmente é possível prever com anterioridade a ocorrência dos ataques noturnos, já que eles costumam seguir um padrão temporal (geralmente nas primeiras duas horas de uma noite de sono). Nesse sentido, Dr. Iannelli orienta uma técnica para quebrar esse ciclo que se consiste em despertar a criança 15 minutos antes da hora prevista para a crise. Esse procedimento deve ser feito por sete dias seguidos, e apesar de perturbar o padrão do ciclo, não afeta a qualidade do sono.

E quando devemos procurar ajuda médica? A maioria das crianças deixa de ter essas crises conforme vai crescendo, no entanto se os episódios de terror noturno estão ocorrendo várias vezes por noite ou são muito frequentes (que ocorrem na maioria das noites) é importante procurar o pediatra que poderá verificar se algum fator físico, como a presença de adenoides ou amigdalas muito grandes podem estar causando problemas respiratórios impedindo uma noite tranquila de sono.

Desde esse dia, por coincidência ou não, as crises de terror noturno cessaram. Pode ser que o fato esteja relacionado ao período de férias, nada de escola, tampouco terapias, os dias apenas reservados para tomar sorvete, ir à casa dos avos, curtir os primos que vivem nos Estados Unidos e vieram nos visitar ou ir ao Freibad (umas piscinas ao ar livre no estilo sede campestre muito comuns na Alemanha). Por outro lado as expedições pelo quarto continuaram e como o verão está com dias contados compramos uma pequena grade para a cama, algo que não o impossibilita sair dela quando acordado, mas que bloqueia o caminho para que suas aventuras não se estendam para todo o quarto enquanto dorme.

Referências

Dr. Richard Ferber é um famosos medico norte-americano, responsável pelo Centro das Perturbações Pediátricas do Sono do hospital pediátrico de Boston e autor do livro Solve Your Child's Sleep Problems (como resolver os problemas de sono do seu filho). Seu método é bastante popular e ao mesmo tempo polêmico, pela forma como incentiva os pais a deixarem a criança chorar sozinha até dormir. Não usei como referência de leitura o método em sim, mas o resultado de seus estudos sobre sono junto ao Hospital Pediátrico de Boston onde ele trabalha.


Dr. Vincent Iannelli, autor do livro The Everything Father's First Year Book  também é autor do portal keepkidshealthy.com



Um comentário:

  1. Deisy, excelente texto. Olivia, tambem, qdo foi pra "cama" de big girl, foram varias idas pro quarto dela e, todas as noites, ela tava em lugares diferentes dentro do quarto. kk
    Qto ao terror noturno, ela tambem acorda algumas vezes na semana, chorando, sentada na cama, como se tivesse acordada. Logo em seguida volta a dormir, mas e uma agonia qdo isso acontece.
    Beijos enormes. xxxx

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