Na
última consulta de rotina ao oftalmologista saímos do consultório com uma
receita de óculos para Adam, o diagnóstico hipermetropia e astigmatismo. Apesar
do grau não ser muito alto e a médica nos dizer que normalmente o astigmatismo
e a hipermetropia não aumentam, tendem a estagnar e a última até reduzir, claro
que num primeiro momento ficamos preocupados, principalmente pela imagem que se
formou na minha cabeça, Adam usando óculos de lentes grossas e armação pesada,
que nos impossibilitaria de ver aqueles olhos amendoados e expressivos os quais
nos brinda com um sorriso lindo a cada dia.
E
como sempre acontece, só depois de pertencermos a um grupo é que notamos a
existência de seus membros. Ao sair do consultório fui surpreendida por um número
enorme de crianças usando óculos, de várias cores e tamanhos. Ao pesquisar pela
internet, vi que hoje em dia a tecnologia está muito avançada e mais e mais óculos
são oferecidos em modelos e tamanhos condizentes aos rostinhos tão pequenos de
nossas crianças. Aquela imagem dos óculos grossos e pesados era algo guardado
no meu inconsciente, imagem dos tempos de infância e de adolescência, quando
usar óculos só deixou de ser algo penoso ao termos o Herbert Viana como
companheiro . Hoje em dia podemos ainda encontrar óculos adequados aos nossos
pequenos com SD, pois a anatomia facial deles é diferente, nariz menor, orelhas
mais baixas, aspectos que podem tornar os ósculos desconfortáveis e encontrarem
mais resistência de serem usados.
Mas
deixando o lado estético de lado, pelas minhas “andanças” na internet, percebi
que a sociedade dá menos atenção que deveria aos aspectos relacionados à visão
das crianças. Hoje em dia conquistamos o direito de ter o teste do pezinho
realizado em todos os hospitais do País, mas o “teste do olhinho”, no qual se
pode detectar doenças congênitas, como a catarata, glaucomas e outras
enfermidades que podem levar à cegueira,
ainda não é padrão na maioria dos hospitais. Muitas vezes eles até fazem exames,
mas estes são superficiais e incompletos. Segundo dados da Organização Mundial
de Saúde ao redor de 19 milhões de crianças são deficientes visuais. Dessas, 12
milhões possuem deficiência relacionada a erros refrativos que podem ser
facilmente diagnosticados e corrigidos. O problemático é que muitos pais só
percebem que o filho necessita de ajuda para ver bem quando este está em idade
escolar, o que para alguns pode ser tarde, pois há certos tratamentos que devem
ser precoces, caso contrário poderá deixar sequelas para o resto da vida.
Nesse
aspecto crianças que nascem com SD têm uma atenção maior, como elas possuem uma
maior tendência a nascer com problemas visuais ou a desenvolvê-los ao longo de
sua infância, muitos países seguem um padrão standard quanto ao tipo e periodicidade dos exames. Entre os
problemas mais comuns estão a obstrução dos canais lacrimais (que se não curada
até os dois anos de idade precisa de uma intervenção cirúrgica), a blefarite ( inflamação das pálpebras ), o estrabismo, a miopia,
o astigmatismo e, às vezes, o nistagmo (movimento rápido dos olhos).
Felizmente
Adam recebeu desde o nascimento atenção especializada, primeiramente um teste
bastante completo que não detectou nenhuma doença congênita e a partir dos seis
meses uma rotina de acompanhamento num intervalo também de seis meses. Nesse
meio tempo tivemos a oportunidade de tratar por meio de massagens e limpeza
adequada uma pequena obstrução no canal lacrimal que a partir dos 18 meses
curou-se por completo. Não fosse a orientação médica, quem sabe uma pequena
cirurgia tivesse que ser realizada. Agora, usando óculos, as visitas se
consistirão em controle e manutenção dos óculos, bem como observação de como
progride ou regride sua deficiência visual. Vale lembrar que por ele estar em
uma fase de crescimento é muito importante que as lentes não tenham exatamente
o grau da deficiência, pois o músculo deve continuar trabalhando.
Por
isso é muito importante que seu filho receba atendimento especializado de um
oftalmologista, de preferencia pediatra, mesmo que não possua Síndrome de Down.
Exija que seus olhos sejam examinados, mais detalhadamente ao nascer, e depois pelo
menos uma vez ao ano, pois Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia “a visão se
desenvolve 90% durante os dois primeiros anos de vida. Portanto, é durante esta
fase que a criança aprende a fixar, a movimentar os olhos de maneira conjunta,
a perceber profundidade. Toda e qualquer alteração durante esta fase que não tenha sido corrigida pode
acarretar prejuízos na visão para o resto da vida. Além disso, o
desenvolvimento motor da criança durante o primeiro ano de vida é diretamente
relacionado a sua capacidade visual. O que muitas vezes parece ser um atraso de
desenvolvimento pode, na verdade, ser deficiência visual, facilmente
diagnosticada e, na maioria das vezes, tratada. Os outros 10% do
desenvolvimento visual ocorrem até 7-9 anos de idade.”
Além
disso, observe o comportamento de seu filho, se ele apresenta um dos seguintes
sintomas: dor de cabeça, cansaço, desinteresse e falta de concentração nas
atividades de perto (às vezes até confundida com déficit de atenção), troca de
letras, dificuldade em seguir uma linha de um texto e tendência a ver TV muito de
perto, não deixe de procurar um oftalmologista, esses são os sintomas mais
comuns para problemas relacionados à miopia, ao astigmatismo ou à hipermetropia
e podem ser facilmente corrigidos com o uso de óculos.
Hoje
finalmente os óculos do nosso pequeno ficaram prontos e se eu já havia ficado
mais tranquila ao ver os modelos pela internet, depois que vi os do nosso
menino meu coração relaxou por completo, os óculos são lindos, pequenos, lente
fina, armação delicada e dá a meu pequeno um look intelectual maravilhoso. Agora a próxima tarefa será fazê-lo
acostumar-se com os óculos, mas isso já são cenas de um próximo post.