6 de nov. de 2011

Plagiocefalia



Quando Adam tinha seis meses nossa health visitor (aqui recebemos a visita de um agente de saúde a cada mês) nos alertou para o fato de que ele tinha plagiocefalia. Plagio o quê? Foi a nossa reação, nunca antes havíamos escutado essa palavra. Plagiocefalia posicional, um transtorno caracterizado por uma distorção assimétrica (achatamento lateral) do crâneo produto de uma postura prolongada numa só posição. Qualquer criança está sujeita à plagiocefalia, mas os bebês com Síndrome de Down têm mais propensão uma vez que devido ao seu baixo tono muscular, eles necessitam mais tempo para manter a cabeça firme, o que resulta em um maior tempo na mesma posição. A plagiocefalia não apresenta nenhum risco para o desenvolvimento do cérebro, é apenas uma questão estética que claro, a logo prazo pode apresentar problemas de ordem emocional às crianças afetadas. Eu já havia notado esse achatamento no lado esquerdo da cabeça do Adam desde que ele tinha seis, sete semanas, mas pensávamos que fosse mais uma característica da Síndrome.

A primeira pergunta que fizemos à health visitor foi se havia como corrigir isso, mas ela não tinha muito conhecimento do assunto, nos falou em um travesseiro especial, mas não sabia exatamente como funcionava. Assim, logo depois de sua visita, fomos para a internet e encontramos uma grande literatura sobre o assunto, tanto em inglês, como em espanhol. Junto com a investigação nos veio um questionamento, por que o sistema de saúde inglês não alerta aos pais da possibilidade de isso acontecer? Se soubéssemos desse risco poderíamos haver usado procedimentos simples que podem evitar esse achatamento (ao final do texto há informações mais detalhadas sobre métodos de prevenção), mas esse alerta parece ser ignorado pelo Sistema. Outro questionamento foi por que esperaram tanto tempo para nos alertar? Adam foi visto desde os dois meses de idade por três pediatras diferentes, cinco vezes pela fisioterapeuta, seis pela health visitor e duas vezes pela enfermeira do GP (o nosso posto de saúde) por que ninguém nunca nos falou sobre o assunto? Por que somente aos seis meses, quando ele já apresentava uma acentuada plagiocefalia a health visitor nos avisou? Se soubéssemos antes, cuidados posicionais poderiam ter corrigido a deformação.

Conhecedores do problema fomos em busca de um tratamento pelo NHS (sistema nacional de saúde do Reino Unido) e mais uma vez nos decepcionamos, o NHS não fornece qualquer tipo de tratamento. Quando expomos o caso à pediatra e à fisioterapeuta ambas disseram que o problema dele não é tão grave, pois a face não foi comprometida e com o tempo a cabeça dele “poderia” voltar ao normal. A única sugestão da fisioterapeuta foi que comprássemos um travesseiro especial, o que fizemos, mas na verdade descobrimos que esse travesseiro funciona mais como método preventivo que corretivo. Sem um respaldo dos especialistas mais uma vez fomos para a internet e descobrimos uma clínica particular em Londres especializada nesse tipo de tratamento. Conforme já sabíamos, após os exames eles detectaram que Adam tem uma severa plagiocefalia e dificilmente voltaria ao normal sem uma intervenção. Por outro lado recebemos muito boas expectativas quanto ao tratamento, pois até os dois anos de idade a moleira não está totalmente fechada e essas mudanças são perfeitamente possíveis.

O tratamento se consiste no uso de um capacete, feito à medida da cabeça do Adam, por um total de 22 horas por dia, o objetivo é direcionar o crescimento da cabeça às partes em que o osso do crâneo está achatado, dando uma forma mais simétrica. Os resultados são excelentes, tivemos oportunidade de ver crianças que corrigiram o problema em três, quatro meses. Em função de que a cabeça do Adam poderá crescer um pouco mais lentamente, devido à Síndrome, os médicos deram um prazo de seis meses de tratamento.

Há três semanas Adam está com seu super capacete, ele me lembra a formiguinha atômica do desenho animado de quando eu era criança, afinal ele está cada vez mais ágil e serelepe. A aceitação do capacete foi ótima desde o primeiro dia, ele sorriu, brincou e até fez pose para fotos. No terceiro dia ele começou a usá-lo também durante a noite e desde a primeira vez dormiu o tempo todo. Agora é esperar que passem os seis meses!   

Métodos de prevenção da Plagiocefalia:

Durante a noite:

Se a criança dorme com a cabeça sempre virada para o mesmo lado ( para a cama dos pais ou para uma janela ou porta), mude a direção da cabeça a cada dia ou a cada dois dias. Assim ela vai não fazer pressão sempre no mesmo lado da cabeça;

No Reino Unido existem orientações bastante rígidas quando ao não uso de travesseiros durante a noite para evitar o risco de sufocamento, entretanto existem travesseiros especiais que podem ser usados durante a noite até que a criança não consiga virar-se enquanto dorme. O travesseiro evita que a cabeça esteja sempre em contato com a superfície dura do colchão.

Durante o dia:

Desde os primeiros meses de vida, busque deixar a criança dormir de bruços ou de lado (alternando o lado) nos momentos em que alguém pode estar vigiando :
Quando estiver acordada coloque-a de barriga para baixo sobre a barriga de um adulto, essa atividade é chamada de tummy time e além de ajudar a prevenir a plagiocefalia, também auxilia no fortalecimento da musculatura do pescoço bem no desenvolvimento da coordenação motora da criança.


Sou a formiguinha atomica e vim para te salvar da monotonia!