29 de set. de 2011

Quando tudo começou ...



“Tudo vale a pena se a alma não e pequena”
Fernando Pessoa

Nasci numa pequena cidade do sul do Brasil, meu marido numa pequena cidade no norte da Alemanha, 35 anos depois nos encontramos numa bonita e alegre cidade no do nordeste da Espanha, Barcelona e de lá partimos juntos para grande e fascinante Londres. Em Londres decidimos que era hora de formamos uma família e foi quando eu engravidei do Adam.

Em função de minha idade,  além dos testes tradicionais - exame de sangue e exame de translucência nucal, eles também me ofereceram a amniocentesis para ver o “risco” de ter um bebê com SD e declinamos desde o primeiro momento. Não queríamos correr o risco de um aborto espontâneo simplesmente por curiosidade, pois caso o teste desse positivo para a SD não faríamos nada para interromper a gravidez (vale salientar que na Inglaterra o aborto é permitido e muito comum quando se detecta que o bebê tem T21).

Nos primeiros dias de gravidez (quando ainda não sabíamos) tive um sonho no qual meu filho tinha SD. Nessa madrugada acordei meu marido, lhe contei o meu sonho e ficamos conversando até de manhã. Naquele dia fomos trabalhar com o sentimento tranquilo de que se fomos escolhidos para termos um filho com SD esta também nos parecia uma linda historia a ser vivida.

A ideia de ter um filho com SD me acompanhou até o dia em que recebi o teste  de sangue no qual demonstrava que o meu risco de ter um bebê com SD era de 1:1500 (mais baixo  que o normal para minha idade na época) e o exame de translucência nucal não apontou nenhuma anomalia fetal. Nesse dia guardei o sonho no inconsciente e curti minha gravidez de maneira tranquila e sem contratempos até o fim.

Então numa linda manha de janeiro, duas semanas antes do previsto, Adam chegou e após alguns minutos fomos informados de que ele possivelmente tinha SD. Nesse momento meu marido e eu trocamos um olhar de cumplicidade, afinal de certa forma já estávamos preparados para isso e o fato de ter síndrome de Down em nada maculou nossa alegria de tê-lo em nossos braços, era o nosso filho, com aqueles olhinhos puxados e assustados que nos teria como pais, como amigos, como confidentes, como protetores, como porto seguro para toda sua vida. Se pensamos que o amávamos durante os últimos nove meses, foi somente nessa hora que pudemos perceber o verdadeiro significado do amor.

Entretanto passados as primeiras horas nas quais a gente se concentrou na felicidade que sentíamos por sermos pais daquele ser tão pequeno, começaram a chegar as preocupações pela sua saúde e pela sua vida. Meu marido ainda no primeiro dia foi para casa e passou toda a noite na internet lendo sobre a SD e o que encontrou não foi nada alentador e lhe causou muita insegurança e medo de perder nosso bebê. Problemas relacionados a uma infinidade de doenças, baixa qualidade de vida e baixa estimativa de vida, além de textos preconceituosos foram os dados que mais apareceram nos resultados de busca em idiomas diferentes, alemão, inglês e espanhol. Insegurança e medo que ele bravamente conseguiu esconder de mim nos primeiros dias, já que eu vivia outro drama, queria muito amamentar, mas meu bebê não pegava no peito e eu  não via na equipe do hospital um empenho para que meu sonho fosse concretizado, desde o primeiro dia me ofereceram leite de fórmula e foi com muito pesar que tive que ceder pois o pediatra me trouxe um diagnóstico de desidratação o que me assustou muito. Chorei compulsivamente nesse dia e senti na pele como os hospitais não estão preparados para receber uma criança com SD, mesmo em países considerados desenvolvidos e referência no tema.

Passados os primeiros dias e com o apoio da família fomos pouco a pouco nos tranquilizando e encontrando aqui e ali textos mais alentadores na internet e livros excelentes que nos foram enviados por amigos e familiares. Também  a cada exame que Adam fazia e recebia o resultado negativo ( o de coração era nosso maior medo e deu negativo em  todos os 3 exames diferentes que ele fez) fazia com que nosso sentido de guarda fosse relaxando e pudéssemos dormir tranquilos entre uma mamada e outra.

Saber da trissonomia somente após o nascimento a meu ver tem suas vantagens, pois os medos e angústias que você passa quando recebe o diagnóstico são mais fáceis de superar quando você está com teu bebê nos braços. Entretanto o desconhecimento da síndrome e a falta de informações fidedignas podem transformar essas primeiras semanas em uma experiência bastante difícil.

Espero nesse espaço poder contar algumas historias de nossas vidas, com o intuito de não só mostrar que uma criança com SD é como todas as outras, mas também informar. Acredito que para nos pais o principal desafio é perceber que nosso filho é único e que a SD e uma condição que ele possui, mas não o resume como ser humano. 

Minha primeira foto de famila !























































Um comentário:

  1. Que legal será compartilhar das experiências com a família! Quando Deisy relatou que Adam era portador da Síndrome de Down, comentei com ela que todos os humanos com a síndrome me remetem o pensamento aos golfinhos. Não sei ao certo explicar, é um sentimento, pois me apresentam meramente sentimentais como são os golfinhos. Muito também, pelos golfinhos chamarem a atenção dos seres humanos e na maioria das vezes apresentarem uma relação de admiração, curiosidade, simpatia e respeito conosco. Além disso, fazem aqueles sons parecidos com assobios, que lembram muito a infância.Gentil com as crianças e forte o suficiente até para derrotar tubarões, eles tem atributos que o aproximam daquilo que os humanos sonham...Fui pesquisar um pouco sobre essa relação, e surpreendente para mim, mas não novidade como informação pelo mundo afora; os golfinhos são úteis na terapia de crianças com comportamentos autistas, síndrome de down e com atrasos psicomotores. Achei fantástico e compartilho. Espero que Adam um dia possa nadar com um golfinho e tenho certeza que a viagem ao mundo do dele será fantástica!

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